SÃO PAULO INVISÍVEL
Existe uma cidade invisível nas ruas de São Paulo, estima-se uma população superior a trinta mil pessoas: velhos, crianças, jovens, que não tem onde morar. Estão nas praças, nos viadutos, incorporados as cenas do cotidiano.
Boa parte dessa população são escravas do crime organizado, dependentes de drogas, filhos que perderam os pais, pais que perderam a família. Há um choro contido, guardado no sofrimento dessa gente, que passa a encontrar no seu augoz o lenitivo. Há um grito rebelde guardado naquelas gargantas, uma ferida aberta nas artérias da cidade.
De onde virá o socorro? Ninguém sabe. Mas há anjos habitando naquele meio, há deuses maltrapilhos levando afeto àquelas almas. Fagulhas de luz, pequenos vagalumes clareando o escuro daquelas vidas. Quantas histórias a serem contadas, vidas roubadas pelo o poder das drogas. Mercado livre, o produto é negociado e utilizado sem constrangimento. Mas onde estão as leis que inibem este comércio?...
E a população aumenta todo dia, mais uma família, outra, simplesmente são pessoas que não tem para onde ir, é a nossa pobreza humana, é a nossa miséria escancarada como uma bandeira no alto do mastro. Brasileiros desnutridos de afeto, vítimas de uma política omissa, sem escrúpulos, perdida nas suas negociações escabrosas. Homens guardados na luxúria de seus ternos, na nobreza de seus palácios, mas secos de amor.
E a cidade cresce, vai tomando a São Paulo visível, vai invadindo seus cartões postais. Se as autoridades não encontrarem nenhuma solução, a cidade invisível um dia será maior que a visível, não haverá tempo sequer para nos esconder da vergonha de não termos feito nada para aliviar o sofrimento de nossos irmãos, de não ter feito nada para mudar aqueles tristes destinos.
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